(Esse post é parte das atividades da disciplina de Fundamentos Sócio-Antropológicos da Educação, do Mestrado em Educação da UEPG)
O primeiro elemento que me chama a atenção é a idéia de D.R. de que o brasileiro é aberto ao futuro:
" É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um dos povos mais homogêneos lingüística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. Não abrigam nenhum contingente reivindicativo de autonomia, nem se
apegam a nenhum passado. Estamos abertos é para o futuro. " (p. 419 - edição de bolso da Companhia das Letras, 2006)
Essa idéia parece compatível com o relativo apreço que temos pelo novo (até no nome dos regimes políticos) e a pouca importância que damos ao patrimônio histórico, inclusive imaterial. O politólogo Alain Rouquié aponta essa mesma percepção:
"-Brasil es todo lo contrario de la Argentina. En la Argentina la gente se acuerda de todo. Es el país de la memoria. La Argentina es el país de "Funes el memorioso". Por el contrario, Brasil es el país de la antimemoria. El país del olvido. Brasil se olvidó de la dictadura. Es verdad que esa dictadura no fue feroz. Las cosas en Brasil se fueron modificando en forma paulatina y serena. El Perón brasileño, Getulio Vargas, ya es parte de la historia. Nadie se declara hoy "getulista", a pesar de que Vargas (1937-1945) hizo prácticamente lo mismo que Perón en lo bueno y en lo malo. En Brasil la historia continúa. Esa es la gran diferencia. La diferencia radica en la actitud que se tiene frente a la historia. Esa es la característica argentina: la historia nunca es definitiva. Su revisión ocupa el centro de la vida intelectual. Un revisionista encuentra siempre otro revisionista que dice "no estoy de acuerdo con eso". (Entrevista ao jornal "La Nación" de 26/10/2008)
Cabe-nos decidir se isso é um problema ou uma vantagem. Acho que para os argentinos, sua característica de ligação com o passado é em grande parte uma desvantagem, embora nos ofereça um patrimônio histórico belíssimo preservado, e não necessariamente pela ação do poder público, mas pela ação do povo mesmo, ao não destruir os edifícios já feitos por vandalismo ou por busca de lucro.
4 comentários:
O apego à memória tem o dom de criar mitos.A memória deve ser respeitada sim, mas desde que não cause imobilismo.Considero a idéia de "estar aberto para o futuro", maravilhosa.O professor de filosofia Roxas Mix chileno,defende a idéia de uma integração latino-americana. Para ele, as raízes de identidade estão no futuro.
Gostaria de destacar o seguinte fragmento apresentado, do politólogo Alain Rouquié : “Las cosas en Brasil se fueron modificando en forma paulatina y serena.” Considero a posição dele em relação ao Brasil muito generalista, pois penso que a História do Brasil não se deu de maneira "serena". Muito pelo contrário, os próprios índios foram rebeldes em relação à escravização, sem falar dos vários conflitos, revoltas, rebeliões, conspirações, inconfidências, etc, ocorridas na História do Brasil. Vejam esse link da Wikipédia, apresenta uma lista de lutas ocorridas no Brasil: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lutas_e_revoluções_no_Brasil. Nesses conflitos, os quais configuram o que é o Brasil hoje, muitos brasileiros lutaram, morreram, foram massacrados, enfim, podemos concluir que não foi muito “serena” não!
Refletindo as colocações de Darcy Ribeiro, podemos perceber que o Brasil carrega características que colaboram para o seu desenvolvimento, seja ele econômico, intelectual e até mesmo cultural. Somos um povo de uma diversidade cultural sem grandes divergências internas, da mesma forma que temos uma vasta extensão territorial sem demasiadas disputas internas por território, quando comparado a outros países. Esses fatores facilitam para o desenvolvimento do país, e como enfatiza Darcy Ribeiro, faz do brasileiro um povo aberto para o futuro.
Todavia, ser um povo aberto para o futuro necessita de uma consciência de que o novo somente existe com o alicerce do passado, ou seja, a história são as nossas memórias, as quais nos fazem conhecer a realidade da qual fazemos parte e porque ela se apresenta dessa maneira. Isso nos remete a um ditado que “Um povo sem memória é um povo sem história”. Porém, cabe salientar que estas memórias não podem caracterizar-se como apego excessivo ao passado, uma vez que assim utilizadas, resultam no retrocesso da sociedade.
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