(Esse post é parte das atividades da disciplina de Fundamentos Sócio-Antropológicos da Educação, do Mestrado em Educação da UEPG)
D.R. dedica um dos primeiros capítulos da obra à "Ilha Brasil", idéia de que o país antecede a sua descoberta pelos portugueses e sua invenção pelos brasileiros depois da independência. Indica para isso razões geográficas e humanas, indicando os tupis como responsáveis pelo rascunho geográfico do país. Duas coisas decorrem disso:
a) Sua visão do Brasil acaba fortemente condicionada pela sua percepção patriótica. Para o nacionalismo, quanto mais antiga puder ser a nação imaginada, mais legitimidade terá o apelo nacional sobre as pessoas. O problema é que, do ponto de vista da Antropologia de meados do século XX para a frente, falar em Brasil antes de 1500 - eu acho que antes de 1822 - é uma forma de anacronismo e de etnocídio, pois reduz a experiência indígena pré-cabralina ao "destino" que a abarcou com a chegada dos portugueses, ou seja, reduz o índio à civilização dos brancos.
b) A visão de nação de nação que D.R. está praticando é mais culturalista que política, a nação parece decorrer muito mais da terra e do sangue do que das escolhas conscientes e voluntárias dos seus cidadãos. Assim, a nação se impõe e limita as opções do sujeito, e o nacionalismo pode ser usado como arma de manipulação de massas ou como recurso de limitar o pensamento e as opções. É interessante pensar que outro sujeito que partilha essa idéia de um Brasil telúrico, pré-existente, esperando para acontecer, é Golbery do Couto e Silva, ideólogo principal do regime militar, que derrotou a tendência política e a geração de D.R.
Um comentário:
Segundo Ortiz(2005) a mestiçagem "simbolicamente conota as aspirações nacionalistas que se ligam a construção de uma nação brasileira. È na cadeia de evolução social que poderão ser eliminados os estigmas das raças inferiores, o que politicamente coloca a construção de um Estado nacional como meta e não como realidade presente".
Portanto, falar em termos nacionalistas antes de 1500 é falar numa perspectiva cultural .
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