segunda-feira, 1 de junho de 2009

O negro no mundo dos brancos


Agora que já vimos um pouco da compreensão de Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro sobre o que é e o que faz o Brasil, um sociólogo dos mais importantes para entender o que é o nosso país (e como a educação acaba por funcionar nele) é Florestan Fernandes. Na introdução de "O negro no mundo dos brancos", Fernandes indica que nossa sociedade foi feita para uso e gozo das elites brancas e dos colonizadores estrangeiros. A integração do negro nela só se dá na medida em que ele se descaracterize cultural e socialmente.
Isso faz lembrar um antigo quadro do Casseta e Planeta (desculpem minha falta de cerimônia) em que o negro da turma, o Hélio de La Peña, ia a uma passeata pela paz, na qual tinha que ir "vestido de branco", e aí o repórter perguntava por que ele não estava vestido de branco, e ele reclamava: "- Como assim? Olha só: sapato, calça social, camisa de manga comprida por dentro da calça... Claro que eu tê vestido de branco!". O Florestan Fernandes discute assim:

"Que equilfbrio podem ter o "negro" e o "mulato" se são expostos, por princípio e como condição de rotina, a formas de auto-afirmação que são, ao mesmo tempo, formas de autonegação? No cume da ascensão social ou no fim de um longo processo de aperfeiçoamento
constante, o indivíduo descobre que extrai o seu próprio valor, e o reconhecimento desse valor pelos outros, daquilo em que ele não é, decididamente, nem negro nem mulato - mas BRANCO! Para os analistas superficiais, esse imperialismo da branquitude é normal e necessário. Isso porque fomos levados a crer que a integração nacional do Brasil depende dessa forma unilateral de realizar a nossa unidade nacional. Nunca tentamos pensar numa direção diversa e imaginar como poderia ser essa mesma unidade se, em vez de integrar por exclusão, ela integrasse por multiplicação." (O negro no mundo dos brancos, p. 15)

O que eu quero propor para discussão é quais as consequências que essa situação traz para a educação do negro, e como nossas escolas participam ou deixam de participar desse processo.

8 comentários:

Patricia disse...

Teve um comentário do Professor sobre o negro onde, durante seu processo de libertação,eles foram envolvidos em um processo de negação do trabalho, e a volta à realidade deste povo ocorreu de maneira tardia e na sociedade não havia mais o seu espaço. Não sei se o interpretei de maneira correta, mas ao meu ver é o próprio negro que se rotula do preconceito e se faz vítima no contexto social. Penso biologicamente, pois a cor nada mais é do que uma ordenação genética que não influi em nada nos processos cognitivos e fisiológicos. Esta auto-rotulação que vitima toda uma sociedade negra os coloca em um patamar que se fazem vistos diferentes pela sociedade. Antes dos preconceitos serem vencidos pela sociedade branca, devem ser vencidos pelos próprios negros.

L.F.Cerri disse...

Não concordo, Patrícia, o processo tem que ser concomitante, porque um depende do outro, estamos envolvidos e partilhados em uma coisa só que é a sociedade brasileira e seu projeto de destino comum.
O seu discurso também é enquadrado por F. Fernandes em outra parte do livro, quando ele discute os processos de formação do preconceito. Trata-se de culpar a vítima pela opressão que ela sofre. É o mesmo padrão do discurso machista que diz que a moça é culpada por ter sido estuprada porque estava usando roupas provocantes, ou seja, uma pequena "transgressão" da vítima justifica o crime do opressor. Você está certa quando afirma que a população negra tem que melhorar sua auto-estima, mas a causa dessa baixa auto-estima é a ação dos não-negros. Se há algo a superar, há em todos os envolvidos, não primeiro nos negros, depois nos não-negros. Isso seria como o Barão de Munchausen sair do atoleiro puxando-se pelos próprios cabelos...

Letícia disse...

Florestan Fernandes afirma que o preconceito do brasileiro é dizer que não tem preconceito...
Em relação ao processo de "branquitude" a que se refere o sociólogo, concordo plenamente, nosso exemplo típico é o Pelé(negro vencedor de alma branca) e o processo que tem sofrido inúmeros jogadores brasileiros que são exportados para o exterior como se fossem escravos contemporâneos, vítimas de uma globalização "esportiva".
A colocação de Florestan Fernandes me faz lembrar a tese de Kuenzer de que a escola profissional inclui para excluir (pela certificação vazia) e o mercado exclui para incluir(em uma cadeia econômica predatória). O paralelo seria: Incluimos os negros "democraticamente" nas escolas para excluí-los no próprio processo ( pelas discriminações,pela própria organização escolar deficiente) e no processo de exclusão escolar- decorrência da exclusão maior que ocorre na própria sociedade- os incluímos na marginalidade, ou para ser mais rigorosos, nas cadeias públicas...
E, assim, o círculo vicioso continua. Até quando?

Patricia disse...

Então Professor, talvez por não me considerar preconceituosa, não tenho a noção da proporcionalidade desta questão, fazendo com que eu enxergue por esse prisma. Concordo plenamente com sua posição de que o aceite deve vir de ambos os lados. Vou fazer a leitura das outras discussões para melhor compreensão.

Elismara disse...

Há uma supremacia da raça branca e um pensamento que persiste em continuar e se proliferar de que o branco deve possuir melhores condições na sociedade se comparado com o negro. Os negros nesta sociedade vivem como invisíveis porque o racismo convence o sujeito de que ele é incapaz e que está numa situação subordinada, porque é diferente. Mesmo tendo as mesmas capacidades e inteligência que o branco, muitos ainda são silenciados ou permanecem no anonimato, pois vivem numa condição de “outsiders” internalizando que são inferiores e condicionados pela raça branca que se ditam “estabelecidos” e, portanto, superiores. Isso me recorda o livro do Norbert Elias “Os estabelecidos e os outsiders”, estudado na disciplina, o qual retrata que uma parcela da população de um mesmo vilarejo sentia-se superior a outra apenas pelo fator tempo de estabilidade no local. O mesmo acontece com os brancos em relação aos negros que se excluem unicamente pelo fator “cor“. A questão racial é construída socialmente, visto que primeiro ocorre assimilação de conceitos errôneos quando se aprende, por exemplo, que “mulher é burra”, “índio é preguiçoso” e “negro é sujo”. Desta maneira, o negro vive numa condição em que é inferiorizado e tachado sempre como “menos”, como pior, feio, enfim. Na escola, que deveria ser diferente, isso ainda é uma constante dentro do ambiente que se diz muitas vezes neutro, universal e com valores próprios. Essa “neutralidade” acentua e dissemina valores estranhos àqueles que ilustram o cotidiano das crianças negras e pobres, que veem reprovados seus hábitos, sua estética e seu jeito de falar. Ao inferiorizar esses alunos, a escola lhes ensina a resignação frente ao fracasso. Portanto, pertencer a uma determinada classe racial faz muita diferença nas relações estabelecidas entre a escola e o indivíduo, nos momentos de avaliação, nas expectativas construídas em torno do desempenho escolar e na maneira como as diferenças são tratadas. É assim que o negro percebe que o status social não é determinado somente pelo emprego, renda ou grau de escolaridade, mas também pela posição da pessoa na classificação racial.

Unknown disse...

A escola não procura trabalhar com a questão da subjetividade e identidade dos negros, nega aos alunos o direito de se reconhecerem negros, pois não abre possibilidade de afirmação da cultura e da identidade negra de maneira positiva. Impõe-se uma postura de embranquecimento, em que "embranquecer" é o meio de ter respeito, dignidade e beleza (por exemplo, o que é belo é ter cabelo liso).

Georgeana disse...

Pensar sobre as conseqüências que essa situação traz para a educação do negro, faz-me lembrar de uma matéria que li sobre Nelson Mandela há alguns anos.
Ao referir-se aos negros que como ele teriam tido o privilégio de receber também a educação dos brancos e de trabalhar entre eles, Mandela teria afirmado: "Estrangeiros em sua própria terra e definitivamente complexados, esses 'privilegiados' aspiravam apenas tornar-se 'ingleses negros'.[...]Éramos ensinados que as melhores idéias eram as inglesas e que o melhor governo era o governo inglês, e que os melhores homens eram ingleses. E estávamos convencidos disso".
O acima exposto pode ser facilmente associado ao processo de branqueamento discutido por F.Fernandes. Creio que nossas escolas participam igualmente de um processo de desestruturação identitária dos negros. Vejo a escola como o espelho da sociedade em que se insere, que reflete "os complexos de valores, atitudes e orientações de comportamento vinculados aos [...] diversos segmentos sociais" (F. Fernandes, p.8)proporcionais à elaboração histórica de raça e cor. Reflexos estes vivificados na "peculiar resistência ao reconhecimento das barreiras de cor" e na negligência (intencional e não) observável em todas as instâncias do sistema de ensino.
Só para completar, cito mais um trecho do texto de F. Fernandes,por achar que este traduz o papel que a escola tem desempenhado na educação dos e para os negros:"[...]O negro e o mulato estão socializados não só para tolerar, mas para aceitar como normal e endossar as formas de desigualdade racial" - o que chama de capitulação passiva.

Unknown disse...

A primeira e segunda guerra mundial matou mais de 100 milhões de pessoas.e o que eles tinham em comum ? eram todos brancos,então se o homem branco mata o seu próprio semelhante o que ele faria com a população negra mestiços etc..? os indios foram quase dizimados em toda a américa
então a conclusão é simples;a ferocidade caucasiana moldou o mundo o que dirá da inquisição na europa judeus brancos morriam queimados e o que Hitler desejava ? os 430 anos de escravidão dos africanos negros foi a maior prova da capacidade caucasiana de matar e se matar.hoje temos um mundo doente de vaidades luxúrias aberrações,fome para todos os lados e a inclusão social
no mundo de hoje é ilusão.cada pessoa que se sentir excluida tem que batalhar pela sua sobrevivencia e de sua familia,a dignidade não tem cor e jamais esperar que vão passar a mão na sua cabeça.lutar lutar sempre mas ter a conciencia que se voce não se amar aí sim voce estará se excluindo mas de voce mesmo.viva a raça negra ! e todas as outras que se simtam injustiçadas neste mundo caótico e doentio que vivemos hoje.

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