segunda-feira, 8 de março de 2010

KIT DO BRASILEIRO - A visão da classe média conservadora

Recebi a seguinte mensagem. No final, comento.

KIT DO BRASILEIRO

*Vai transar?*
O governo dá camisinha.

*Já transou?*
O governo dá a pílula do dia seguinte.

*Teve filho?*
O governo dá o Bolsa Família.

*Tá desempregado?*
O governo dá Bolsa Desemprego.

*Vai prestar vestibular?*
O governo dá o Bolsa Cota.

*Não tem terra?*
O governo dá o Bolsa Invasão e ainda te aposenta.

*Mas experimenta estudar e andar na linha pra ver o que é que te acontece!*

"Trabalhe duro, pois milhões de pessoas que vivem do Fome-Zero e do Bolsa-Família, sem trabalhar, dependem de você"


Achei muito pouco solidária essa mensagem. Pago meus impostos e apoio os programas sociais, porque não é a caridade que reduz a pobreza (embora ela seja importante) mas políticas públicas bem pensadas, continuamente avaliadas e corrigidas e que passem de um governo a outro, para ter uma ação constante.

- A distribuição de camisinha tem reduzido a gravidez na adolescência e controlado a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. O custo desses problemas sociais é MUITO maior que o custo da camisinha, ou das críticas pseudo-moralistas que fazem a esse programa. Seria interessante conhecerem os programas de vários sistemas de saúde, de redução de danos, em que se distribui seringas para quem quer se drogar. Assim, consegue-se acompanhar o drogado e ajudar na sua recuperação. Se os governos não dessem a seringa, a pessoa ia continuar se drogando, só que compartilhando seringa e espalhando outras doenças.

- Pílula do dia seguinte? O fato é que essa visão é dominante nos sistemas de saúde pública e o pessoal da saúde do governo José Serra também distribui: http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=85780. Podemos discutir esse ponto, mas não tem nada a ver com fazer crítica leviana ao governo federal.

- Estudos sérios e independentes mostram que o bolsa-família é eficiente em combater a miséria e promover as pessoas, apesar de alguns erros, que são identificados e corrigidos (vide o recente cancelamentos de mais de 700 mil bolsas). Se quiserem, eu escaneio e envio artigos científicos sobre o tema.

- No contexto, a menção ao "bolsa-cota" e sua ilustração pode merecer um processo por discriminação. Os "cotistas" tiveram desempenho acadêmico superior aos não cotistas na UEPG em 2007, primeiro ano do programa. As maiores médias dos cursos de História, Odonto e Administração, por exemplo, foram de cotistas negros.

- Os movimentos de trabalhadores sem terra podem até ter uns excessos, mas é engraçado como a gente acha intolerável a violência de um sem-terra contra pés de laranja, mas não dá tanto "IBOPE" o assassinato e a tortura deles; só ser for uma freira norte-americana, que aliás apoiava a ocupação de terras. Na média, o MST e congêneres tem dado uma contribuição essencial à reforma agrária nesse nosso país de absurda concentração fundiária. E o governo não distribui terras de fazendas produtivas, são só as que o INCRA determina como improdutivas, ou que plantaram drogas, ou que praticaram trabalho escravo. Agora, a aposentadoria do trabalhador rural é da Constituição de 1988. Se querem deixar os velhilhos que trabalharam no campo sem aposentadoria porque não contribuíram para o sistema, é só mudar a constituição.
- Sobre os impostos, estudos demostram que os mais pobres pagam cerca de 50% de sua renda com impostos diretos e indiretos que incidem sobre os produtos que compram. A classe média paga menos que os mais pobres, proporcionalmente, apesar do senso comum. Se alguém quer realmente pagar poucos impostos, não se trata de não estudar e não trabalhar, mas de ser muito rico. Aí realmente pagará poucos impostos, ou nenhum.

5 comentários:

Ligi disse...

gostaria que mais da metade da população inclusive meus pais lessem isso... mas infelizmente preferem ficar com as opiniões da nossa querida televisão.
mesmo assim ainda pode-se ver melhoras e espero que continue melhorando.

Unknown disse...

Ainda tem mais uma... quando algum indivíduo é preso e condenado, a família passa a receber algo em torno de 1 salário mínimo e meio.
O perigo é se todos os desempregados começarem a cometer crimes para garantir o sustento familiar.

Paulo Silva (História UEPG 2007)

L.F.Cerri disse...

O desempregado vai cometer crime para obter esse auxílio para a família quando achar que o ambiente da cadeia é mais compensador que a situação de alguém que procura emprego ou faz uns bicos pra ir sobrevivendo. Eu continuaria procurando emprego, mas aí é uma questão de gosto.

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Rebate de forma lógica e clara os esperneios histéricos de certas gentes pela internet afora...

Posso colocar texto e link do blog na comunidade Brasil, do orgute, onde muito se usa esse tipo de falácia?

Mas aí arrisca o blog ser inundado por xingações maleducadas dos desacostumados a argumentos em contrário.

Anônimo disse...

Vejamos:

quando um indivíduo comete ato que transgride as leis da sociedade, significa que ele não está apto a socialização, para isso medidas devem ser tomadas, como a sua reclusão. As medidas punitivas visam o reenquadramento do indivíduo na sociedade, isto é, que ele não cometa delitos novamente. Uma casa de detenção por exemplo podemos chamar de instituição ressocializadora de indivíduos que ainda estão inaptos a conviverem em harmonia com a sociedade, pois instituições socializadoras anteriores, tais como a escola, a família, os meios de comunicação e toda relação social do cotidiano não foram capazes de socializá-lo dentro dos parâmetros das leis de tal sociedade.

Não sou intelectual da sociologia e muito menos bom conhecedor de questões jurídicas, mas com leitura, análise e senso crítico sobre os fenômenos, acredito que tudo pode ser compreendido. Por isso, resolvi, em resposta a este e-mail que recebi com o assunto ‘KIT DO BRASILEIRO’, enviar o link (http://www.franca.unesp.br/auxiliocjs.pdf) de um estudo analítico, contextualizado e disposto a compreender o fenômeno (o auxílio-reclusão) considerando seus pontos positivos e negativos, elaborado por Daniela da Silva Abreu CHAGAS e Thais Junqueira MAGANINI, além de outras considerações minhas.

O fato é que o e-mail se dá através de chacotas a benefícios do Governo concedidos a população. No entanto é possível compreendermos benefícios públicos de outra forma, que apresento limitadamente: o Estado é uma máquina, um grande complexo empresarial do povo, dirigida por governantes eleitos pelo voto. Tal complexo se dá economicamente através de impostos recolhidos, investimentos e lucro. Superficialmente entendemos de lucro aquilo que sobra após todos os gastos cobertos, superficialmente. E este então pode ser utilizado para novos investimentos ou então para desfrute do dono, que no caso, é o povo. Nessa concepção, é fácil notar que o Governo jamais concede benefícios, ele apenas administra a empresa que ao obter lucro, este deve ser redistribuído aos donos. Porém, como nos referimos ao povo, a sociedade, que são estes os donos, os lucros são atribuídos as suas necessidades.

Quando observa-se tais ‘benefícios’ em outros países, o brasileiro olha maravilhado, vendo a possibilidade de uma vida justa. Mas por ser no Brasil, não sei o que acontece, mas a visão muda adicalmente e tais ‘benefícios’ são chacoteados e criticados, sem fundamento ou análise alguma, como se eles fossem prejudiciais a sociedade. Penso eu que a má administração pública, esta sim é nociva, quando não bem realizada, principalmente quando trata-se de um país como o Brasil, com sua possibilidade de ser auto-sustentável.

É interessante atentarmos ao fato de que a questão está centrada nos tais ‘benefícios’, mas o e-mail ainda discorre críticas ao sistema de cotas e ao Movimento dos Sem Terra, que em poucas palavras, é um movimento formado por pessoas que não possuem propriedade, tal qual eu, e que recorrem a mobilização e luta em prol dessa conquista na ânsia de resolver o déficit histórico, social e político ao qual todos os brasileiros foram submetidos no sistema de exploração de terra e mão-de-obra desde a sua descoberta até hoje. Mas como trata-se de um e-mail, não cabe aqui escrever muito, nem mesmo sobre o item foco.

O e-mail ainda acusa ao fim que ‘Estudar e andar na linha’ pode algo lhe acontecer. Não tenho dúvida, estudar pode acarretar em muitas coisas, principalmente em ajudar a analisar ou escrever um e-mail antes de repassar.

att

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