domingo, 18 de abril de 2010

O 31 pelo 15 para chegar ao século XXI

Muitos dizem que em Ponta Grossa vigora uma mentalidade atrasada. Por formação e por dever de ofício, não aceito que existam sociedades ou pensamentos “adiantados” ou “atrasados”, pois isso significaria que há um tempo comum em que todos tem que se encaixar, e isso não se sustenta. Mas confesso que às vezes duvido dessa convicção.
O artigo do sr. Taques Fonseca no Jornal da Manhã de 18/04/2010 (“Temos muito orgulho do 31 de Março”) revela quão importante é o debate proposto pelo movimento “31 pelo 15”. Não é questão menor. A forma com nos relacionamos com nosso passado mostra o que somos e principalmente o que queremos ser, como povo. As coisas e pessoas homenageadas nos logradouros públicos são amostras da cultura política coletiva.
Os argumentos de Fonseca, com todo respeito, estão no século XX, reproduzem o discurso político dominante dos anos 60, e o que mais precisamos é estar no século XXI. Qualquer um que tenha acompanhado o debate historiográfico e sociológico sobre a ditadura sabe que exagerar a “ameaça comunista” foi a desculpa para uma parte da elite assumir o poder via golpe militar e reorganizar o estado de modo autoritário dentro de sua visão econômica e social. As elites - rurais, empresariais, financeiras, internacionais - não suportavam o modelo varguista de estado, que limitava seus ganhos. Com os generais presidentes e seus civis de confiança, o “bolo” cresceu, e todos sabemos quem o comeu. Não foi o gato.
Concordo com Fonseca que devemos educar nossos jovens, para que não se confundam. É muito triste ver que há quem não diferencie criteriosamente a democracia da ditadura. Os atos violentos da oposição armada foram um grão de areia perto do banho de sangue que foi a repressão promovida por bandos civis financiados por empresários e pelo estado. Esse banho oficial de sangue é a principal marca do 31 de Março, e não parou mesmo quando derrotaram a luta armada, entrando pelos anos 70 e matando opositores que eram contra pegar em armas, e gente que apenas era contra o regime, incluindo idosos, adolescentes, grávidas...
Não temos aqui nenhum logradouro que homenageie símbolo ou líder comunista. Não se reivindica isso. O que queremos saber é se vamos continuar homenageando a opressão, a censura, a tortura, o terrorismo de estado que se ligam à data de 31 de Março de 64. Viva o 15 de Março, que permitiu achar alguma coisa e continuar sendo achado!

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