(Esse post é parte das atividades da disciplina de Fundamentos Sócio-Antropológicos da Educação, do Mestrado em Educação da UEPG)
Uma das críticas ao debate sobre a identidade do Brasil é o chamado "mito das três raças". Ao identificar a ideia de que o Brasil resulta da união de negros, brancos e índios, e classificar essa leitura como um mito (em outras palavras, uma construção não-racional destinada a produzir identificação e subserviência a uma origem e a uma ordem que dela decorre) a crítica se estabelece.
D.R. é ambíguo nesse aspecto, pois, se por um lado usa essa estrutura explicativa, por outro vai além da versão mais conservadora que vê no português uma matriz predominante e decisiva, à qual somam-se alguns penduricalhos culturais secundários de negros e índios. Compreende que todos se modificam, e portanto a herança portuguesa não é mais herança portuguesa, porque se transformou radicalmente com a força da cultura viva de negros e índios, heterogêneos e diversos entre si, que também se alteram radicalmente. Não se trata de alguma coisa que se agregou como acessório, mas algo que está em tudo o que se faz aqui.
4 comentários:
Levando em consideração o “mito das três raças”, é interessante pensarmos sobre a discussão do conceito de raça. Existem algumas discussões que apontam que a utilização do conceito racial, atualmente, não faz sentido no Brasil. Conforme Darcy Ribeiro menciona, o Brasil é um povo pluriracial, em que um branco não é mais “puramente” branco, assim como um português não é mais “puramente” de herança portuguesa. Portanto, essa miscigenação do povo brasileiro faz com que a utilização desse conceito se torne inviável para caracterizá-lo como branco, negro, índio. Mas ainda é utilizada a divisão da população brasileira em brancos, negros, pardos, indígenas e amarelos, por exemplo, pelo IBGE.
Silvana
Atrelando as reflexões à Darcy Ribeiro, podemos pensar que ao descobrirem o Brasil, os colonizadores se fundiram com a cultura dos índios e africanos, fazendo do nosso país uma identidade única e não um reflexo do povo português.
Diante disso, podemos afirmar segundo o autor, que somos uma mestiçagem de corpo e mestiçagem de cultura, tornando o Brasil um país multicultural. Foi a partir da convivência e fusão dessas três raças que se caracterizou culturalmente a “cara” da nação brasileira. Portanto, torna-se totalmente equivocado esta discriminação do dito “branco” com relação ao dito “negro” ou vice versa, como se toda história brasileira estivesse reduzida à uma cor de pele. A mistura de ambos é que caracterizou a identidade que temos hoje, a cultura, os costumes, enfim...”o povo brasileiro”. Dessa forma, quem constrói o Brasil é o seu povo e não o contrário.
Elismara
Através da historicidade(Chauí,1986) a sociedade e a cultura estão sempre se refazendo em um movimento dinâmico.A cultura e seu caráter relacional constroem significados no processo de interação.Acredito que somos decorrência disto.
Em relação ao poder (e cultura), a dominação portuguesa não foi total,pois embora os negros e índios tenham sofrido a dominação, o significado e resultado não foram necessariamente de aceitação.Os diversos conflitos mostraram(e continuam mostrando)isto.
Duas leituras corroboram com esta discussão. A primeira refere-se a Cuche sobre o conceito de aculturação, em que a formação cultural das sociedades se dá etnologicamente por um movimento contínuo de trocas e agregações de forma a não mais existir uma predominância cultural pura.
A segunda leitura remete ao que Marilena Chauí (Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária) apresenta sobre a conceituação da miscigenação brasileira através da distinção dos grupos étnicos. A autora cita Silvio Romero, Manoel Bonfim e Paulo Prado que no final do séc. XIX apresentam uma leitura eurocêntrica, em que a análise é feita a partir da supervalorização do português (Europeu) em cujo sentido os negros e os indígenas são colocados como um subgrupo, uma subcultura. Por outro lado, aponta Afonso Celso, Gilberto Freyre e Cassiano Ricardo que, no início do séc. XX, valorizam positivamente a influência dos grupos minoritários nessa aculturação.
Darcy Ribeiro, por sua vez, é o autor que contempla estas duas idéias de forma mais contundente por ousar uma análise crítica sobre o perfil da matriz européia.
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