1. Se os professores participam involuntariamente no que os teóricos críticos da educação chamam de reprodução social, o que você, como professor, faria para superar as piores dimensões desse processo?
2. Como professores ou futuros professores, o que podemos fazer para tornar o currículo oculto menos oculto e menos perigoso?
3. Se o ensino e o aprendizado são formas de política cultural, quais são as maneiras pelas quais inconscientemente silenciamos ou excluímos vozes de estudantes diferentes em nossas salas de aula, tais como as vozes das minorias e dos estudantes economicamente desprivilegiados? Como podemos falar da emancipação sem mostrar desprezo por aqueles que estão presos nas garras da dominação ou ignorância, independente de suas posições de classe?
4. Como a nossa abordagem do currículo ajuda a moldar atitudes e percepções dos estudantes sobre a natureza do mundo? O mundo é visto como problemático? Ele é aberto ao questionamento e à análise? Você vê a estrutura social como imutável e inviolável ou como aberta a novas possibilidades de mudança emancipatória? Como poderemos desenvolver um discurso de educação que integre a linguagem do poder e do propósito com a linguagem da intimidade, amizade e preocupação com o outro?
8 comentários:
4. Muitos professores concebem o currículo como uma "camisa de força", identificando-o como disciplinas ou conteúdos obrigatórios que deverão ser trabalhados de forma principalmente conceitual e que tem origem em uma estrutura da qual não fazem parte.Esta concepção "naturaliza" o currículo, supõe sua neutralidade,
não questiona e retira o poder do professor frente ao conhecimento.
Esta é uma atitude que reforça o caráter reprodutor da escola frente à sociedade, no entanto, a escola através dos sujeitos sempre abrigará uma natureza emancipatória.
Uma pedagogia crítica será aquela que devolve o poder ao professor e auxilia os alunos na compreensão da realidade tão contraditória, instrumentalizando-os para mudanças.O método dialético por exemplo,auxilia na construção do conhecimento em suas várias dimensões, tentando superar inclusive, a fragmentação do conhecimento no currículo.Ao partir da prática social, problematiza-se, são realizadas as abstrações necessárias(papel da escola)para que se alcance a realidade concreta.
Somente ao tomar consciência do seu papel social(e de seu poder) é que o professor estará mais preparado à auxiliar no processo emancipatório dos alunos.Portanto, este processo pertence aos sujeitos escolares e deverá estar pautado no diálogo.
2 – Pensando a partir da perspectiva da pedagogia crítica, para tornar o currículo oculto menos oculto e menos perigoso, primeiramente, é necessário que o currículo oculto seja explicitado, ou seja, que se tome consciência das práticas que estão ocultas. Dessa maneira, somente ao “desmascarar” o que está oculto é que existe a possibilidade de repensar e reencaminhar as práticas que tem um efeito negativo. Vale lembrar que, como aponta McLaren, “nem todos os valores atitudes ou padrões de comportamento que são produtos colaterais do currículo oculto em ambientes educacionais, são necessariamente maus.”
Como retrata Peter Mc Laren “encarar o currículo como forma de política cultural é assumir que as dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas são as categorias básicas para entender a escolarização contemporânea” (p.219). Partindo desse pressuposto e de algumas contribuições da pesquisadora Heloisa Candal em recente palestra na cidade de Ponta Grossa intitulada “A sociologia e a cultura da criança”, cabe destacar que muitos professores, e a escola como um todo, silenciam as vozes das crianças quando em suas práticas procuram tratá-las de forma homogeneizada. Dessa forma, caracterizam esses sujeitos pela faixa etária como se todos fossem iguais social, cultural e economicamente. Vemos em muitos discursos a utilização do termo heterogeneidade e a necessidade de considerar as diferenças entre as crianças. Porém, o que presenciamos são práticas pedagógicas que ignoram estas “infâncias” com as quais trabalham, como por exemplo, dos indígenas, ciganos, entre outros. Há necessidade, portanto, de se conhecer social e culturalmente o que os alunos vivem fora dos bancos escolares para direcionar a prática pedagógica e transmitir o conhecimento de maneira mais adequada, sistematizada e contextualizada.
Luciano:
Início com uma fala de (Parelius& Parelius, 1987, p.12) quando falam da escola como reprodutora da sociedade " Além disso , a educação massiva torna-se um meio, por excelência, para o inculcamento de valores e comportamentos necessários à atividade produtiva: " as crianças podem ser ensinadas à pontualidade, disciplina, respeito pela autoridade; e a aceitação da responsabilidade de seu trabalho. Desta forma, tenho a sensação que é necessário passarmos por um processo de superação da lógica do capital de conscientização. Ao analisar Bowles e Gintilis, Carnoy (1984) esclarece que as relações exitentes entre os diversos memboros da escola, copiam a relação existente no mundo do trabalho. Não existe receita, até porque a questão da educação é complexa (TESCAROLO, 2006), no entanto acredito que o 1ª passo é criarmos um espaço de reflexão, que traga a tona a realidade "nua e crua", para que possa ser debatida, refletida e refeita à luz de teóricos.Outro, superar a desesperança!!!! na escola tá cheio da antítese disso! é necessário uma reflexão utopia e realista ao mesmo tempo (FREIRE). Para refletir: MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
Patrícia:
1 - Acredito que um dos aspectos que devem ser considerados e que vem da própria teoria crítica da educação, é o que refere-se levar a vida para dentro da escola; como fala Leonardo Boff na apresentação a edição da obra. Mascarar a realidade não auxilia em nada, assim refletir a educação/vida como processo de contradições, relações de poder, ideologias... O desafio é justamente articular o professor como sujeito epistêmico com o social, conscientizando-se dos "novos e antigos mitos em educação". ( MCLAREN,p.243-247). É necessário, pois, "Compreender e transformar o ensino", paulatinamente corroborando com uma teoria compatível com a superação a ingenuidade, aos mitos destruidores, a uma verdadeira pedagogia crítica.
2- Concordo com muitas das colocações de P. McLaren no texto em questão e entendo que o caminho possível para tornar o currículo oculto menos oculto ou perigoso, de fato seja a incorporação da pedagogia crítica na praxis docente. Incorporação esta que demanda ao educador crítico o entendimento de que o conhecimento escolar nunca é neutro ou objetivo e sim ligado a interesses, a relações de poder e a uma lógica silenciosa de ênfases e exclusões e ainda, a tomada de partido direcionada à construção de um conhecimento emancipatório, relevante, crítico e transformador.
Para tanto, segundo McLaren, o professor deve encorajar os estudantes à reflexão sobre as idéias, valores e visões de mundo sob os quais todos são subjetivamente moldados - tanto professores quanto alunos -, utilizando inicial e fundamentalmente a valorização do capital cultural do aluno.
Gláucia
As mudanças deveriam ser iniciadas na mentalidade dos próprios professores, que deveriam se unir para exigir uma formação de maior qualidade. Tudo o que importa hoje é ter o diploma, independente do que efetivamente foi aprendido. Isso é justificado pela epidemia da "educação" privada, onde sucesso é sinônimo de ganhar muito dinheiro. Uma educação que mude os alunos tem que mudar os educadores também. Mas de qualquer forma, o espaço onde as coisas devem efetivamente "mudar" é a própria sala de aula. O professor não pode ter mais medo de discutir assuntos ligados à pobreza, exclusão, minorias, racismo e outras controvérsias. Mas para isso o professor tem que ter mais leitura e menos preguiça. Um exemplo claro da não-problematização do currículo oculto é a aula tapa-buraco, com filmes, desenhos, sem que nenhuma atividade seja desenvolvida no sentido de instrumentalizar uma leitura crítica no aluno. Novamente, professor sem leitura crítica não ensina a fazer crítica. Mas essa leitura pode ser feita em todos os níveis de ensino. Esta semana, por exemplo, assisti o desenho dos Ducktales em que a mensagem e os valores passam o tempo por ganhar dinheiro a qualquer custo e a esterotipação das personagens também promove, se não problematizada, o enraizamento inconsciente de normalização das idéias de que as meninas são um "peso social" e não servem para nada e ainda que toda classe em toda escola tem necessariamente um "bobão" representado na figura do nerd, gordinho que usa óculos o qual muito embora pareça integrado, vez que é escoteiro, seu nome já revela o estereótipo que esse personagem representa: Asnésio.Triste pensar que a maioria dos professores não se preocupa com o conteúdo do que muitas vezes passa em sala, já que passsa a título de entretenimento. O pior é quando vemos as estatísticas como a trazida pela professora Heloisa Candal na semana passada acerca das horas diárias que a criança passa em frente à TV, são 6 horas em média, contra 4 que ela passa na escola. Fica a pergunta, quem efetivamente
(des)educa nossas crianças. è nesse sentido que creio ser obrigação da escola formar os alunos para "lerem criticamente o mundo". E volto a afirmar, só é capaz de formar bem um aluno um professor que é ele mesmo bem formado.
Olá a todos, parabéns pelas intervenções! Penso que poderia ser adicionado que uma perspectiva fundamental é a autocrítica, entendida como a capacidade de duvidar da própria visão de mundo e de escola, e de equacionamento dessas questões. Como discutimos, uma postura dialógica implica abertura para a posição contrária, mesmo que ela seja a do aluno. É relativizar nossas próprias crenças e contextualizá-las histórica e socialmente, já que nossa educação, crenças e valores decorrem de nosso tempo e de nossa classe social.
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