quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A tirania da CAPES sobre os pesquisadores da pós-graduação

A cada ano, o setor de avaliação da CAPES (MEC) torna mais rígidos os critérios para suas concessões, desde a concessão de bolsas e auxílios até o reconhecimento de programas de pós-graduação (que implica a concessão de um auxílio financeiro anual).
Vários colegas dizem que se trata de uma absurda interferência do governo nas Universidades, que é a reprodução acrítica de uma lógica produtivista e de exploração da mão-de-obra do professor universitário e seus orientandos, ou que é a lógica do capital, e outros chavões pescados na ortodoxia do esquerdismo.
Ora, os comitês de área e os líderes da avaliação da CAPES são acadêmicos. São escolhidos levando em conta a opinião de pesquisadores, programas de pós-graduação e entidades científicas. Não são "eles", somos "nós", por mais que eu possa fazer críticas à representatividade dos membros escolhidos e aos critérios de escolha.
Claro que há uma pressão também sobre os comitês, para que se adaptem a tendências gerais que extrapolam as próprias áreas. Por exemplo, o pessoal da Educação gosta muito dos livros e capítulos de livro na produção de conhecimento, enquanto a linha geral da CAPES vai no sentido de valorizar cada vez mais os artigos em periódicos especializados.
Também podemos dizer que a avaliação por vezes se equivoca. Por exemplo, quando começou a estimular uma maior produtividade, tivemos uma enxurrada de textos de alunos e de colegas publicados em anais de eventos, que sabidamente são menos rigorosos que os artigos. Colegas passaram a ter uma pontuação, em publicações, que era 10 vezes maior do que se esperava para um pesquisador. Mas, ao olhar com calma essa produção, percebia-se muitas vezes uma reciclagem de textos, com mudanças mínimas, para os mesmos públicos potenciais, além de muita "autoria honorária", para usar um eufemismo. Percebendo esse descaminho, o comitê de área diminuiu o peso dos trabalhos publicados em anais de eventos, valorizando os artigos científicos, tanto mais quanto maior seja a qualidade formal e a difusão do periódico. Hoje, o estímulo é para poucos bons produtos.
Em suma, a avaliação é avaliada, e corrige-se.
Estaríamos pior se não tivéssemos controle público (é a República que estabelece o controle sobre os recursos públicos) sobre o setor da Ciência e da Tecnologia. Que o tratamento dos que se comportam como barnabés de repartição fosse o mesmo que o dos que efetivamente agem de acordo com o título de doutor.
Que não nos venham falar de espaço público e restrição às liberdades do capital e valorização dos trabalhadores se não quiserem estar em condições parecidas com as dos demais trabalhadores do nosso país.
Condição de trabalho é outra discussão. Ninguém te dá, você conquista, negocia ou arranca à força.

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