6/05 - MESA REDONDA A QUESTÃO DO PRESENTE E O ENSINO-APRENDIZADO DA HISTÓRIA

Falaram Valdei Araújo, Marcello Magalhães e Ana Maria Monteiro, de diferentes lugares e trajetórias, procurando enquadrar a questão do tempo presente no ensino de história.
Fala de Valdei Lopes de Araújo - UFOP, pesquisador de história da historiografia:
Procurou discutir o enfrentamento do tempo presente na sala de aula do ponto de vista do professor de teoria da história. Comentou a transformação do valor epistemológico do tempo presente - Rüsen - é no presente que a experiência se torna possível e passado e futuro vigoram como efeito e expectativa. Articulou o tema do presente com o da imparcialidade na escrita da história: a passagem do tempo nos ajudaria a entender a história, não pela razão primária de que evita as paixões, mas porque permite visão mais completa, melhor posição cognitiva, melhor articulação entre parte e todo na perspectiva da historiografia moderna.
- o presente pode ser pensado de duas formas complementares, a primeira como presença (convergência de imagens, retensão e protensão) e como época
- Nietzche - revolta contra a confiança historicista no progresso - aponta o valor ético do anacronismo, como possibilidade de não continuar preso a seu passado, mas romper com ele para livrar-se de seus vícios e problemas / W. Benjamin - libertar o passado / tanto Benjamin quanto Nietzche antecipam a crítica da visão moderna da história
- perda de orientação global / alargamento do presente / perda da confiança em realizar o futuro como redenção do presente - perda da história como grande cadeia causal - consequências do alargamento do presente para o ensino de história - sincronismo e anacronismo como ambas possibilidades legítimas de formação e pensamento histórico.
- produção de sentido e orientação devem conviver com outras formas de relação com o tempo - a tarefa da história continua ser desalienação no sentido de ampliar as possibilidades da escrita de dar sentido, desvelar o mundo e entender que também há o reverso do sentido, a falta de sentido, o horror - não basta domesticar a história, estar alienado na crença de que é possível dominar todo o sentido da história
- pensar em formas anacrônicas de organização da experiência histórica para a sala de aula
- a aula - etimologia - situação em que uma lição pode acontecer, além de um local em que uma lição é dada
fala de Marcelo de S. Magalhães - prof. da UERJ / faculdade de formação de professores, pesquisador de história política e cidadania
O ponto de partida desse debatedor foi o seu interesse pelo período de início da República com manuais escolares, e a busca de relação constante entre ensino de história e historiografia.
- Centrou a exposição no trabalho de João Ribeiro, autor de Livros didáticos, cuja trajetória intelectual envolve participação do IHGB - análise de “História do Brasil - curso superior”, obra didática em que Ribeiro passa a apresentar-se como primeiro a escrever a história do Brasil como uma nova síntese para além da descrição dos mandatos dos governantes - reivindica uma história do Brasil do interior
- Os historiadores “positivistas” (os falta de melhor termo) no Brasil oitocentista pouco escreveram história do seu presente, que seria a história do império. Varnhagen, por exemplo, em “História da independência” publicada postumamente, em 1916 colocava-se o problema, para a história do presente, da objetividade e das testemunhas vivas que contestam o historiador.
- Em geral, autores abordados rejeitam a paixão e nos Lds reafirmam a importância do distanciamento temporal. Apesar disso, a dimensão do presente é importante para esses historiadores que achavam que a história é restrita ao passado - eles se permitem discutir o presente em discursos, artigos de jornais, ou seja, fora da produção acadêmica de conhecimento histórico.
- Marcelo Magalhães aponta que João Ribeiro destacou, em seu discurso de posse no IHGB o presente como organizador do passado, e que em alguns casos a imparcialidade pode ser imoral, ainda que proteja os vivos. é possível verificar no pensamento do autor que o presente convive com a condição de interdito para a história (= passado) e com a sua importância pedagógica, motivo pelo qual aparece na obra didática e nos programas oficiais
Fala de Ana Maria Monteiro, diretora da FE da UFRJ
O ponto de partida da debatedora é o dos estudos de didática e currículo, interessada na investigação do estatuto epistemológico da Didática, que conduz à necessidade de diálogo com os historiadores.
Monteiro indica que a prática é tradicionalmente vista como lugar do não saber, da não teoria, o objetivo da palestrante é investigar esse espaço-tempo da prática. Quanto ao conceito de conhecimento histórico escolar: Ana Maria não defende, como os pesquisadores franceses, que seja um conhecimento original, mas concorda com a ideia de que ele produz configurações originais
- epistemologia social escolar / relação dos docentes com os saberes - considera o professor como intelectual, não como um simples transmissor - o que é ensinado não deriva natural e automaticamente da ciência, mas sim produção sociocultural - relações são tão imbricadas e cotidianas que se tornam naturalizadas - não se pensa, por exemplo, na constituição histórica da própria escola
- conhecimento histórico escolar - elaboração mediada por escolhas educativas baseadas em valores (axiológicas)
(não pude assistir a fala até o final porque tive que sair para ir buscar o computador que esqueci no avião no dia anterior - nesse momento a profa. Ana Maria desenvolveu uma discussão sobre o uso do anacronismo nas aulas de história)
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