Entre os dias 6 e 7 de Maio, tive a oportunidade de participar do Seminário Nacional O valor da história hoje, promovido pelo grupo Oficinas da História, que reúne profissionais da UERJ, UFRJ, PUC-Rio e UniRio. A abertura do evento (da qual não participei) foi feita por Durval Muniz de Albuquerque Jr., presidente da ANPUH. O Grupo Oficinas da História é um grupo modelo de articulação entre história e ensino de história, envolvendo tanto profissionais que se vinculam mais diretamente ao ensino de história quanto historiadores interessados na temática do ensino, tanto como objeto de pesquisa histórica quanto de reflexão didática para a atualidade. O seminário dedicado ao prof. Manoel Luiz Salgado Guimarães, falecido em abril de 2010. A seguir tento fazer um pequeno panorama dessa interessante experiência, destacando um aspecto que me pareceu recorrente, que foi o de um movimento em que a teoria da história e a historiografia colocavam questões para a didática da história e, simetricamente, as discussões da didática da história e da história do ensino de história pontuavam diversas questões para a teoria e a historiografia.
6/05 - MESA REDONDA A QUESTÃO DO PRESENTE E O ENSINO-APRENDIZADO DA HISTÓRIA
Falaram Valdei Araújo, Marcello Magalhães e Ana Maria Monteiro, de diferentes lugares e trajetórias, procurando enquadrar a questão do tempo presente no ensino de história.
Fala de Valdei Lopes de Araújo - UFOP, pesquisador de história da historiografia:
Procurou discutir o enfrentamento do tempo presente na sala de aula do ponto de vista do professor de teoria da história. Comentou a transformação do valor epistemológico do tempo presente - Rüsen - é no presente que a experiência se torna possível e passado e futuro vigoram como efeito e expectativa. Articulou o tema do presente com o da imparcialidade na escrita da história: a passagem do tempo nos ajudaria a entender a história, não pela razão primária de que evita as paixões, mas porque permite visão mais completa, melhor posição cognitiva, melhor articulação entre parte e todo na perspectiva da historiografia moderna.
- o presente pode ser pensado de duas formas complementares, a primeira como presença (convergência de imagens, retensão e protensão) e como época
- Nietzche - revolta contra a confiança historicista no progresso - aponta o valor ético do anacronismo, como possibilidade de não continuar preso a seu passado, mas romper com ele para livrar-se de seus vícios e problemas / W. Benjamin - libertar o passado / tanto Benjamin quanto Nietzche antecipam a crítica da visão moderna da história
- perda de orientação global / alargamento do presente / perda da confiança em realizar o futuro como redenção do presente - perda da história como grande cadeia causal - consequências do alargamento do presente para o ensino de história - sincronismo e anacronismo como ambas possibilidades legítimas de formação e pensamento histórico.
- produção de sentido e orientação devem conviver com outras formas de relação com o tempo - a tarefa da história continua ser desalienação no sentido de ampliar as possibilidades da escrita de dar sentido, desvelar o mundo e entender que também há o reverso do sentido, a falta de sentido, o horror - não basta domesticar a história, estar alienado na crença de que é possível dominar todo o sentido da história
- pensar em formas anacrônicas de organização da experiência histórica para a sala de aula
- a aula - etimologia - situação em que uma lição pode acontecer, além de um local em que uma lição é dada
fala de Marcelo de S. Magalhães - prof. da UERJ / faculdade de formação de professores, pesquisador de história política e cidadania
O ponto de partida desse debatedor foi o seu interesse pelo período de início da República com manuais escolares, e a busca de relação constante entre ensino de história e historiografia.
- Centrou a exposição no trabalho de João Ribeiro, autor de Livros didáticos, cuja trajetória intelectual envolve participação do IHGB - análise de “História do Brasil - curso superior”, obra didática em que Ribeiro passa a apresentar-se como primeiro a escrever a história do Brasil como uma nova síntese para além da descrição dos mandatos dos governantes - reivindica uma história do Brasil do interior
- Os historiadores “positivistas” (os falta de melhor termo) no Brasil oitocentista pouco escreveram história do seu presente, que seria a história do império. Varnhagen, por exemplo, em “História da independência” publicada postumamente, em 1916 colocava-se o problema, para a história do presente, da objetividade e das testemunhas vivas que contestam o historiador.
- Em geral, autores abordados rejeitam a paixão e nos Lds reafirmam a importância do distanciamento temporal. Apesar disso, a dimensão do presente é importante para esses historiadores que achavam que a história é restrita ao passado - eles se permitem discutir o presente em discursos, artigos de jornais, ou seja, fora da produção acadêmica de conhecimento histórico.
- Marcelo Magalhães aponta que João Ribeiro destacou, em seu discurso de posse no IHGB o presente como organizador do passado, e que em alguns casos a imparcialidade pode ser imoral, ainda que proteja os vivos. é possível verificar no pensamento do autor que o presente convive com a condição de interdito para a história (= passado) e com a sua importância pedagógica, motivo pelo qual aparece na obra didática e nos programas oficiais
Fala de Ana Maria Monteiro, diretora da FE da UFRJ
O ponto de partida da debatedora é o dos estudos de didática e currículo, interessada na investigação do estatuto epistemológico da Didática, que conduz à necessidade de diálogo com os historiadores.
Monteiro indica que a prática é tradicionalmente vista como lugar do não saber, da não teoria, o objetivo da palestrante é investigar esse espaço-tempo da prática. Quanto ao conceito de conhecimento histórico escolar: Ana Maria não defende, como os pesquisadores franceses, que seja um conhecimento original, mas concorda com a ideia de que ele produz configurações originais
- epistemologia social escolar / relação dos docentes com os saberes - considera o professor como intelectual, não como um simples transmissor - o que é ensinado não deriva natural e automaticamente da ciência, mas sim produção sociocultural - relações são tão imbricadas e cotidianas que se tornam naturalizadas - não se pensa, por exemplo, na constituição histórica da própria escola
- conhecimento histórico escolar - elaboração mediada por escolhas educativas baseadas em valores (axiológicas)
(não pude assistir a fala até o final porque tive que sair para ir buscar o computador que esqueci no avião no dia anterior - nesse momento a profa. Ana Maria desenvolveu uma discussão sobre o uso do anacronismo nas aulas de história)
Nenhum comentário:
Postar um comentário