quinta-feira, 17 de junho de 2010

Privatização branca da educação não funciona nem nos EUA

Recebi de Elaine Lourenço o link para uma matéria da revista Educação que recomendo. Trata-se um texto de Beatriz Rey chamado "De volta ao começo". A autora traz a opinião da educadora norte-americana Diane Ravitch, que participou do governo Bush e ajudou a criar a lei denominada "Nenhuma criança deixada para trás" (NCLB), que pregava a criação da eficiência na escola pública atraves de meios de gestão empresariais.
Professores e gestores eram vistos como executivos que, se conseguissem bons resultados, seriam premiados com bônus em dinheiro, e, caso contrário, seriam punidos com corte de verbas para a escola e mesmo demissão e fechamento da unidade escolar. Qualquer semelhança com a rede pública de São Paulo - leia-se Alckmin e Serra - NÂO È mera coincidência.
Bom, o fato é que a Diane, estudando os resultados, concluiu que o que é bom para as empresas em busca de lucro (e olha lá,a crise financeira mostrou que as coisas não são bem assim) não é bom para a educação em busca de aprendizado e de cidadania.
Professores e gestores começaram a definir a educação dada segundo os testes. Assim, os alunos eram treinados para o tipo de questão e de conteúdo típico do teste, e aprendiam mais a responder testes do que as disciplinas em si. Submetidas a outro tipo de avaliação, as escolas demonstram ter piorado em vez de melhorado com o genial plano.
Quem para e pensa sobre o nosso ensino médio e o vestibular, PSS e - ao que parece - Novo ENEM da vida também não pode deixar de notar a semelhança. Por isso, talvez, nossos melhores alunos no ensino superior não são exatamente os que melhor passaram no vestibular.
De quebra, o que o tucanato trombeteia como novidade alvissareira já está em dúvida nos lugares em que surgiu. Parece que alguém está sem projeto e não percebeu ainda. Meu medo é que esse povo da educação de SP reestabeleça o Eixo do Mal Curitiba - São Paulo de Ideias Mirabolantes para a Educação que havia no governo do Jaiminho Lerner.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Em clima de Copa do Mundo e de ecologia - CALA A BOCA, GALVÃO!



No final das contas a brincadeira foi parar no New York Times!

O ensino da história da ditadura para militares

Reproduzo abaixo reportagem da FOlha de São Paulo repercutido na lista do GT de Ensino de História e Educação da ANPUH. Que as cúpúlas militares queiram ter sua própria visão enviesada da História, vá lá, mas que queiram educar as próximas gerações nesse libelo autoritário sem qualquer sustentação nas ciências da História e da Educação, não dá para admitir.

Livro do Exército ensina a louvar ditadura
* *Colégio militar usa material de história com perfil diferente do indicado
pelo MEC*


* ANGELA PINHO*
DE BRASÍLIA


A história oficial contada aos alunos dos 12 colégios militares do país
omite a tortura praticada na ditadura e ensina que o golpe ocorrido em 1964
foi uma revolução democrática; a censura à imprensa, necessária para o
progresso; e as cassações políticas, uma resposta à intransigência da
oposição. É isso que está no livro didático "História do Brasil -Império e
República", utilizado pelos estudantes do 7º ano (antiga 6ª série) das
escolas mantidas com recursos públicos pelo Exército. Nelas, estudam 14 mil
alunos, entre filhos de militares transferidos ou de civis aprovados em
concorridos vestibulinhos. De cada aluno é cobrada uma taxa mensal de R$ 143
a R$ 160, da qual estão isentos os que não podem pagar. Mas 80% das despesas
são custeadas pelo Exército.


As escolas militares poderiam utilizar livros gratuitos cedidos pelo
Ministério da Educação a todas as escolas públicas. Mas, para a disciplina
de história, optaram pela obra editada pela Bibliex (Biblioteca do
Exército), que deve ser adquirida pelos próprios alunos. Na internet, o
preço é R$ 50, mais um caderno de exercícios a R$ 20. O Exército afirma que
o material "atende adequadamente às necessidades do ensino de História no
Sistema Colégio Militar".


O livro de história mais adquirido pelo MEC para o ensino fundamental, da
editora Moderna, apresenta a tomada do poder pelos militares como um golpe,
uma reação da direita às reformas propostas por João Goulart (1961-64). A
partir disso, diz a obra, seguiu-se um período de arbítrio, com tortura e
desaparecimentos, em que a esquerda recorreu à luta armada para se
manifestar contra o regime.


Já a obra da Bibliex narra uma história diferente: Goulart cooperava com os
interesses do Partido Comunista, que já havia se infiltrado na Igreja
Católica e nas universidades. Do outro lado, as Forças Armadas, por seu
"espírito democrático", eram a maior resistência às "investidas
subversivas". No caderno de exercícios, uma questão resume a ideia. Qual
foi o objetivo da tomada do poder pelos militares? Resposta: "combater a
inflação, a corrupção e a comunização do país".


*TORTURA*


A obra não faz menção à tortura e ao desaparecimento de opositores ao regime
militar. Cita apenas as ações da esquerda: "A atuação de grupos subversivos,
além de perturbar a ordem pública, vitimou numerosas pessoas, que perderam a
vida em assaltos a bancos, ataques a quartéis e postos policiais e em
sequestros". A censura é justificada: "Nos governos militares, em
particular na gestão do presidente Médici [Emílio Garrastazu, 1969-1974],
houve a censura dos meios de comunicação e o combate e eliminação das
guerrilhas, urbana e rural, porque a preservação da ordem pública era
condição necessária ao progresso do país."


As cassações políticas são atribuídas à oposição do MDB (Movimento
Democrático Brasileiro). "Embora o governo pregasse o retorno à normalidade
democrática, a intransigência do partido oposicionista motivou a necessidade
de algumas cassações políticas", diz trecho sobre o governo Ernesto Geisel
(1974-79). Para o historiador Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), o livro usado nos colégios militares é problemático tanto
do ponto de vista das informações que contém como pela forma como conta a
história.


"O principal motivo do golpe foi o incômodo causado pela possibilidade de
que setores populares tivessem uma série de conquistas." Mas, para Fico,
mais grave ainda é a forma como o livro narra o período, com uma "história
factual" carente de análise, focada apenas na ação dos governos. "Trata-se
de uma modalidade desprezada inclusive pelos bons historiadores
conservadores", avalia.


*ANÁLISE*


*A "história oficial" e os argumentos interessados*


*HÉLIO SCHWARTSMAN*
ARTICULISTA DA *FOLHA*
Permanece aberta a questão do estatuto epistemológico da história. Definir
se ela é uma ciência e o grau de objetividade de seus juízos envolve uma
controvérsia que dificilmente vai se resolver antes do fim dos tempos.


Numa linha mais pragmática, pode-se afirmar que é do confronto entre
diferentes concepções de historiografia e de como ela se relaciona com os
fatos que se forja a visão que cada época elabora de seu próprio passado.
Assim surge a história oficial, que sempre poderá ser revista de acordo com
novas interpretações, numa demonstração de que às vezes nem o passado é
imutável.


Essa frouxidão epistêmica, típica das chamadas ciências do espírito, está
longe contudo de significar um vale-tudo. Por mais difícil que seja depurar
a ideologia constante de qualquer discurso, enquanto a linguagem conservar
algum valor, haverá narrativas mais ou menos precisas e relatos mais ou
menos honestos.
É perfeitamente razoável debater, por exemplo, os rumos que tomava o governo
de João Goulart. Pode-se também discutir o alcance e o significado social do
chamado Milagre Brasileiro. São questões que comportam legitimamente
interpretações mais à esquerda ou à direita.


A argumentação politicamente interessada, porém, através de eufemismos,
omissões ou falsificações, pode dar lugar a crimes de lesa-historiografia. É
o que faz o livro adotado pelo Exército quando deixa de informar que a
"Revolução levada a efeito, não por extremistas, mas por grupos moderados e
respeitadores da lei e da ordem" derrubou pelas armas um regime
democraticamente eleito -o que, em bom português é golpe de Estado.


Ainda pior, a obra simplesmente deixa de mencionar que setores ligados às
Forças Armadas se valeram de tortura para desbaratar os grupos de esquerda,
o que, independentemente das intenções dos militantes, era proibido pelas
leis editadas pelo próprio regime militar. Em 2007, setores da mídia
conservadora protestaram com razão contra os excessos esquerdistas de um
livro didático, "Nova História Crítica", que foi distribuído para algumas
escolas pelo MEC. Será curioso observar como reagirão agora ao mesmo erro
com sinal invertido.


*OUTRO LADO*


*Não há juízo de valor, afirma comandante *


DE BRASÍLIA
O coronel Silva Alvim, comandante do colégio militar de Brasília, o maior do
Exército, afirma que as escolas militares abordam "apenas o fato histórico",
sem juízos de valor sobre o regime militar. Questionado sobre a omissão dos
torturados e desaparecidos no livro do 7º ano, diz que se trata de um tema
proibido. "Dentro desse culto aos valores e tradições do Exército, esse tipo
de assunto [tortura e desaparecidos] nós buscamos não tratar. Até porque, no
âmbito do Exército brasileiro, essas questões não são permitidas", diz.


Curiosamente, no ensino médio, a apostila adotada pelo colégio militar de
Brasília, feita pelo sistema Poliedro, fala em "ditadura" e "tortura". Mas
"não enfaticamente", responde o coronel ao ser indagado sobre a diferença de
abordagem. Questionado sobre o livro, o Centro de Comunicação Social do
Exército afirmou apenas que a linha didático-pedagógica da obra, adotada
desde 1998, "atende adequadamente às necessidades do ensino de História no
Sistema Colégio Militar". O Ministério da Defesa disse, via assessoria de
imprensa, que o teor do livro "será levado ao conhecimento das autoridades
competentes".

sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Governador nomeia o reitor eleito da UEPG"...

... quem dera o Pessutão fosse tão rápido para nomear os professores que passaram no concurso no ano passado e que estão fazendo falta nas nossas salas de aula!

Abriram a cela dos pitbulls reacionários - Aileda de Mattos Oliveira

Recebi por e-mail esse mimo. A professora começa citando Cesare Lombroso (!!!!). Doeu fundo na alma de historiador e educador:

Resistência Democrática: Latrocracia - Aileda de Mattos Oliveira

Dizer que Cesare Lombroso está desacreditado é pouco. Suas teorias foram escorraçadas pela antropologia moderna, e ficou óbvio que ela servia tão somente para dar ares de cientificidade ao racismo mais tosco e insustentável.
É só isso que essa professora que escreveu o artigo tem a oferecer, um ódio cego, um preconceito renitente, tacanho, sofrível, herança do século XIX. Além disso, essa senhora deve imaginar que o governo Lula inaugurou a corrupção, coitada. Não deve saber dos escândalos da poupança Delfim, da Coroa-Brastel, da Capemi (na ditadura militar), das privatizações mal explicadas, por preços vis e emprestando dinheiro às raposas que compraram as estatais, bem como a compra de votos para a reeleição de FHC, o escândalo da pasta rosa, etc. Ela deve pensar que, se o Serra ganhar, vai governar sem os Sarney, Collor, Calheiros, Barbalho e Roberto Jefferson da vida. Deve imaginar que PSDB/PFL não lotearam os cargos de confiança e não pagaram favores aos empresários que contribuíram em suas campanhas. Deve imaginar que corrupção é um problema de "envergadura moral". Pelo jeito, a professora entende de português, mas não de brasileiro.

Precisamos sim:
- dar cada vez mais poderes e recursos para a CGU (se sabe quem é o Lombroso, deve saber o que é a CGU, realizada pelo governo Lula)
- dar cada vez mais espaço à Polícia Federal, como vem ocorrendo com tantas operações desde 2003 (estão até acabando com os nomes decentes de operações policiais...)

Esse denuncismo à la UDN não presta pra nada, esse moralismo de vivandeira de quartel já elegeu Jânio e Collor, e derrubou presidentes eleitos democraticamente. Dessa vez não, minha senhora!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O financiamento da pesquisa - equívocos?

Critica-se a CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino de Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico) por algumas decisões no que se refere a financiamento de pesquisa.
Esses órgãos privilegiam a publicação de artigos como produção científica, e a publicação com quantidade e em periódicos de qualidade é fator primordial na avaliação do pesquisador para a obtenção de financiamento.
Para alguns, como o colega Gerson Martins, cujo texto circulou entre os sindicatos vinculados ao ANDES, os artigos não possibilitam a devida interlocução com os pares, o que é promovido pelas comunicações e publicação de trabalhos em eventos científicos, cuja pontuação, para os órgãos financiadores é pouco relevante.
Temos que reconhecer que, ao menos nas Ciências Humanas e Sociais em nosso país, ainda sofremos de uma cultura em que todos tem muito a dizer e poucos estão ali para efetivamente ouvir e debater. Isso se reflete nos periódicos, em que ainda é pouco comum escrever artigos debatendo artigos de colegas. Soa deselegante, e não estamos acostumados. Então, os periódicos são pobres em interlocução por falta de hábito em nossa comunidade científica, não porque seu formato não permita o debate.
Como a avaliação dos pesquisadores, no final das contas, não é feita exatamente pela CAPES ou CNPq como instituições, mas por pares, a pergunta é sobre qual resultado - o artigo ou a comunicação em um evento - é alvo de maior rigor em sua avaliação, tornando-se um produto mais valorizado.
Num Congresso, o comitê científico trabalha, salvo raríssimas exceções - dando pareceres em grandes quantidades e não poucas vezes sobre resumos (ainda que esta tendência esteja sendo revertida nos encontros mais consolidados). O avaliador tende a ser mais condescendente porque os trabalhos geralmente são de caráter mais imediato, pesquisas e reflexões em elaboração. Nos periódicos, a avaliação pelos pares é mais rigorosa: o volume por parecerista adicionado ao fator tempo é favorável a uma leitura mais detida e criteriosa. O avaliador tende a ser mais rigoroso e a exigir resultados consolidados e uma reflexão bem acabada.
Já a publicação de livros, tão típica das Ciências Humanas, tem estado "na mira" dos comitês da CAPES (nossos pares, não nos esqueçamos) por um motivo óbvio: é possível ao autor pagar a própria edição sem passar por um comitê editorial rigoroso. Mesmo um comitê editorial famoso não garante o rigor: se eu for amigo do editor ou se ele me deve algum tipo de favor ou consideração, o livro pode dar a volta à avaliação e sair por uma editora famosa e bem avaliada. Se isso ocorre com um periódico, ele perde totalmente a credibilidade. Com os livros, isso não chega a ser raro.
Não é por isso que os encontros vão acabar. Pelo contrário, eles têm crescido cada vez mais. E se especializado, também, havendo oportunidades para interlocução em todos os níveis da carreira. O caráter de espaço em que se fazem novos contatos com pessoas de nossas áreas de interesse não se perde. Além disso, na era do e-mail, do skype, das mensagens instantâneas, a comunicação e a colaboração entre os pesquisadores acontece em um outro nível. Um pesquisador trancado em seu gabinete pode estar em intensa comunicação com outros pesquisadores, e é geralmente o que estamos fazendo. Esvaziar nossa caixa de mensagens é um eterno "sonho de consumo".
Penso que o problema é outro. Numa abordagem produtivista de ciência, o pesquisador tende a tornar-se um imbecil especializado. Não tem tempo para participação política, sindical, cultural, não valoriza o envolvimento nas discussões e na disputa de espaços para definição dos rumos da universidade e da sociedade. Não lhe interessa trabalhar pela vulgarização do conhecimento científico. Um intelectual despolitizado, aí é que está o grande problema.

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