7/05/2010 - MESA A QUESTÃO DA ALTERIDADE NO ENSINO DE HISTÓRIA
A última mesa do encontro foi formada por Cecilia Goulart, Helenice Rocha e Junia Pereira
Cecília Goulart, da UFF, pesquisadora da área da linguagem, sustentou seus argumentos em M. Bakhtin para destacar o tema da alteridade. Enfocou os processos de produção do texto na escola, e o papel dessa instituição de produzir o diálogo entre gerações, nova, antiga e muito antiga, superar o desconhecimento das gerações anteriores, isso não é só da história. Utilizou o conceito bakhtiniando de movimento alteritário, movimento do diálogo, espaço que se podem construir utopias e reconhecer o espaço de cada um sem reduzi-lo a si.
Para a debatedora, a história é o conhecimento mais básico para educar para a mudança - que mudança é essa, qual seu conceito? Passa pela relevância dos alunos se reconhecerem como seres humanos, participantes do mesmo gênero que produziu o passado e que traz a condição de fazer história - abrir-se para o movimento da experiência deles. olhar para a criança olhando para a sua trajetória, seu passado, não basta olhar só para o seu futuro, projetando-o, pensando só a partir das expectativas - filhos das classes sociais diferentes são geralmente vistas apenas em suas limitações, no que lhes falta. Comentário o material coletado pela tese da Helenice Rocha e do material de uma dissertação do ensino de Física. Em todos os casos, o equacionamento ou resolução dos problemas passa pela linguagem, pela dificuldade de formular
A fala de Junia Sales Pereira (UFMG) dedicou-se às Dimensões da recepção e prática da Lei 10.639/03 e 11.645. Anunciou que seu raciocínio vai a contrapelo de um pressuposto que está na lei de que através do ensino de história se produzirá determinadas identidades [mas com a identidade nacional funcionou!]. Procurou fazer a análise das dimensões da recepção das expectativas e tensões postas pela lei na escola - na análise compreende-se o trabalho docente como um trabalho multirreferenciado em ambiente multirreferenciado: compartilhado, relacional, dialógico, mediado por interações. Propôs ler a escola como ambiente de dialogia e contextualização - Bakhtin, Bhabha … - e a docência como circunstanciada, socialmente situada, cria membros de uma comunidade de prática - prática docente, inclusive a aula, é obra coletiva e obra aberta - seu resultado / repercussão não é definido pelo professor sozinho. Asseverou que o professor de história é professor referente para questão da 10639 - quase tão referente quando há um professor negro, que costuma ser referente para isso [mesmo que não queira ou não possa]
Considerou importante também trazer o conceito de recepção, que não é ato mecânico que supõe transmissão de uma mensagem e assimilação direta e unívoca de uma mesma mensagem - à recepção comparecem conteúdos explícitos e não visíveis - a recepção é o campo da dispersão e da imprevisibilidade.
- Identificou as dimensões da recepção da lei: - polifonia; - natureza experiencial dos conteúdos e discursos abordados; - dimensão axiológica dos pressupostos da Lei em confronto com as concepções de história envolvidas
- configurações mais frequentes na sala de aula - um elemento importante é o aspecto religioso - pais de determinadas denominações religiosas boicotam eventos voltados para cultura negra. Conclui com a importante perspectiva de que “você só entende o outro quando se coloca ou quando é colocado no lugar dele”.
A fala de Helenice Rocha (UERJ) foi intitulada “Mundo grande mundo - apontamentos sobre o desafio da diversidade cultural na aula de história”
- a problemática: - surge de demanda de professores das escolas públicas confrontando-se com a secretaria de educação e defendendo o valor do universalismo na história e em seu ensino defentido por professores e por uma tradição das humanidades - isso era o argumento dos professores para não trabalhar com as diversas demandas de identidade, com isso se perderia a história como se aprendeu a ensinar, que serviria para inserir o aluno na humanidade
- consideração de uma diferença que pode contribuir para o aprofundamento ou a diminuição do fosso existente entre diferentes na sala de aula, o da inserção maior ou menor dos alunos na cultura da escrita.
- aula de história é uma ambiente de leitura e que depende de alunos letrados para acontecer.
- argumento escolhido - a possibilidade do exercício de um “universalismo romàntico” na ação do professor de história considerando a natureza de seu objeto de conhecimento na ambição de alargamento de horizonte cognitivo dos alunos em sua interação pela linguagem oral e escrita, constitutiva do conhecimento histórico escolar. O “universalismo romântico”(perspectiva de incorporação do pensamento pós moderno, que pode ser também chamado de neorromântico) pode ser capaz de pluralizar essa história universal. O universalismo foi relacionado como forma de constituição do conhecimento histórico nos quadros de exercício do racionalismo. A debatedora fez ainda a defesa da tensão necessária entre o universalismo e o neorromantismo: um unversalismo romântico como postura teórico-metodológica diante dos desafios contemporâneos da história e de seu ensino. Por fim, desenvolveu a análise de narrativas verbais e não verbais presentes em aulas.
2 comentários:
Oi Cerri!
Você teria referências sobre esse "universalismo romântico"? O conceito parece interessar-me para o momento.
Aguardo, um abraço!
Oi, Carol, vamos perguntar ao debatedor.
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